26.6.06

desafio para o verão...

lemos (ou relemos) toda a "recherche"?







25.6.06

Livro pedido

Para o E.


"Não entender" era tão vasto que ultrapassava qualquer entender - entender era sempre limitado. Mas não-entender não tinha fronteiras e levava ao infinito, ao Deus. Não era um não-entender como um simples de espírito. O bom era ter uma inteligência e não entender. Era uma bênção estranha como a de ter loucura sem ser doida. Era um desinteresse manso em relação às coisas ditas do intelecto, uma doçura de estupidez.

Mas de vez em quando vinha a inquietação insuportável: queria entender o bastante para pelo menos ter mais consciência daquilo que ela não entendia. Embora no fundo não quisesse compreender. Sabia que aquilo era impossível e todas as vezes que pensara que se compreendera era por ter compreendido errado. Compreender era sempre um erro - preferia a largueza tão ampla e livre e sem erros que era não-entender. Era ruim, mas pelo menos se sabia que se estava em plena condição humana.
No entanto às vezes adivinhava. Eram manchas cósmicas que substituíam entender.


Clarice Lispector
Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres



20.6.06

J., obrigada pelo livro e pelo elogio(?).

Madame Géniale se trouvait géniale.
Elle n' avait pas tout à fait tort,
mais pas tout à fait raison non plus.

Madame Genial achava-se genial.
Ela nunca estava errada,
mas também não tinha sempre razão.

14.6.06

Abrir um livro ao acaso e encontrar o poema oportuno.

Chuva de primavera -
Uma menina ensina
O gato a dançar.

Issa Kobayashi
Primeira Neve
(tradução de Jorge Sousa Braga)

9.6.06


Para a abertura da época balnear, levo "Kafka à beira-mar".

Se as leituras também obedecem às estações, encontrei o livro ideal para o prelúdio do Verão. E não é apenas pela sugestão do título...
No dia em que faz quinze anos kafka foge de casa, segue viagem até uma cidade distante e aí fica a viver, num canto de uma biblioteca; um velho fala com gatos, o misterioso Johnnie Walker colecciona as almas dos felinos, do céu chovem sardinhas e cavalas...

8.6.06


Para quem Deseja Casar

e para todos os saudosistas fiéis ao desejocasar.blogspot.com, finalmente o livro.

Amanhã, 6ª feira, dia 9, pelas 18h30, podem conhecer os autores na banca da Verso da Kapa (Casa das Letras) - do lado esquerdo de quem sobe a Feira do Livro, a partir do Marquês.


O lançamento do livro é no dia 13 de Junho, 3ª feira, às 21h no espaço principal da Feira do Livro.


7.6.06




ENSEMBLE C'EST TOUT
ANNA GAVALDA






"elle n'etait pas pressée et fit la queue devant la devanture d'un traiteur chic pour s'offrir un bon diner. ou plutôt une bonne bouteille. (...) finalement, elle indiqua au vendeur un morceau de chèvre et deux petits pains aux noix."

"quoique... tu aurais des doutes, malgré tout... à cause de ses mains, de son cou, de cette façon qu'il avait de promener l'ongle de son pouce sur sa lèvre inférieure... oui... tu hésiterais... c'etait peut être une fille finalement? une fille habillée en sac. comme si elle cherchait à cacher son corps? tu essayerais de regarder ailleurs mais tu ne pourrais pas t'empêcher d'y revenir. parce que il y avait un truc, là... l'air etait spécial autour de cette personne. ou la lumière peut-être?
voilà. c'etait ça.
si tu venais d'entrer dans cette lavomatic pourrie de l'avenue de la bourdonnais un 29 décembre à cinq heures de l'après-midi et que tu apercevais cette silhouette sous la lumière triste des néons, tu te dirais exactement ceci: ben merde... un ange..."

" tu as raison, on ne va pas y arriver... il vaut mieux que tu te casses... mais laisse moi te dire deux choses avant de te souhaiter bonne route. la première, c'est à propos des intellectuels justement... c'est facile de se foutre de leur gueule... oui... c'est vachement facile... souvent, ils sont pas trés musclés et en plus, ils n'aiment pas ça, se battre... ça ne les excite pas plus que ça les bruits de bottes, les medailles et les grosses limousines, alors oui, c'est pas trés dure... il suffit de l'arracher leur livre des mains, leur guitare, leur crayon ou leur appareil photo et déjà, ils ne sont plus bons à rien ces empotés... d'ailleurs, les dictateurs, c'est souvent la première chose qu'ils font: casser les lunettes, brûler les livres ou interdire les concerts, ça leur coute pas cher et ça peut leur éviter bien des contrariétés par la suite... mais tu vois, si être intello ça veux dire aimer s'instruire, être curieux, attentif, admirer, s'êmouvoir, essayer de comprendre comment tout ça tient de bout et tenter de se coucher un peu moins con que la veille, alors oui, je le revandique totalement: non seulement je suis une intello mais en plus je suis fière de l'être... vachement fière, même..."

"... et puis je vais aller me promener... la lumière est belle... je finirai sûrement dans un café ou un salon de thé...manger des scones à la gelée de myrtilles..."

" ils se donnèrent la main en remontant à la surface.
la main, c'est bien.
ça n'engage pas trop celui qui la donne et ça apaise beaucoup celui qui la reçoit..."

6.6.06

Ainda a lógica do absurdo.

UM HOMEM QUE ESCREVE

Um homem tinha escrito cabeça na testa e mão em cada mão, e em cada pé.
O pai dele disse, pára, pára pára pára, pois a redundância é como ter dois filhos, o que é dois filhos a mais, como logo à partida é já um filho de mais.

O homem disse, posso escrever pai no pai?
Sim, disse o pai, porque um pai está cansado de suportar tudo sozinho.

A mãe disse, vou-me embora se todas essas pessoas vierem jantar.
Mas o pai escreveu jantar em todo o jantar.

Quando o jantar acabou o pai disse ao filho, poderás escrever arroto no meu arroto?

O homem disse, hei-de escrever Deus abençoe todos em Deus.


Russel Edson



5.6.06

Nos saldos da Assírio e Alvim, na Feira do Livro, descobrimos O Túnel, de Russell Edson, um livro de poemas em prosa, trágicómicos.

OUTONO

Uma vez um homem encontrou duas folhas e entrou em casa segurando-as com os braços esticados dizendo aos pais que era uma árvore.

Ao que eles disseram então vai para o pátio e não cresças na sala pois as tuas raízes podem estragar a carpete.

Ele disse eu estava a brincar não sou uma árvore e deixou cair as folhas.

Mas os pais disseram olha é outono.