31.8.06

Já em 1779, Madame du Châtelet prescrevia os ingredientes para a felicidade.

"Para sermos felizes, é preciso termo-nos desembaraçado dos preconceitos, seremos virtuosos, gozarmos de boa saúde, termos gostos e paixões, sermos susceptíveis de ter ilusões, pois devemos a maior parte dos nossos prazeres à ilusão, e infeliz daquele que a perder."

E ainda um conselho para as boas bocas:

"Não vos queixeis de serdes gulosos, pois esta paixão é uma fonte de contínuos prazeres; mas sabei servir-vos dela para a vossa felicidade: isso ser-vos-á fácil ao ficardes em casa, e ao fazer-vos servir apenas o que queirais comer: fazei períodos de dieta; se esperardes que o vosso estômago deseje com uma fome verdadeira, tudo o que se vos apresentar dar-vos-á tanto prazer quanto as iguarias mais rebuscadas, e nas quais não pensareis se não as tiverdes diante dos olhos."

Madame du Chatelêt, Discurso sobre a Felicidade

28.8.06


Leituras de Verão:

Como já não há conchinhas na praia, decidimos coleccionar os livros pousados nas sombras dos chapéus-de-sol das praias de Aljezur.
Entre mergulhos e olhares furiosos dos leitores, decobrimos estes:

Os Anões - Harold Pinter

O Cirugião - não conseguimos confirmar nome de autor

O Tigre Sentado - João Aguiar

A Casa das Perguntas - Fernando Campos

Crime no Expresso Oriente - Agatha Christie

Cuba - não conseguimos confirmar nome do autor

Ninguém Escreve ao Coronel - Gabriel García Márquez

Kafka à Beira-Mar - Haruki Murakami

Em Busca do Tempo Perdido: Do Lado de Swann - Marcel Proust

A Rainha do Sul - Arturo Pérez-Reverte

As Locuras de Brooklyn - Paul Auster

Crónica de Uma Morte Anunciada - Gabriel García Márquez

Ubik - Philip K. Dick
V for Vendetta - Alan Moore e David Lloyd
Equador - Miguel Sousa Tavares (x2)

O Grande Gatsby - F. Scott Fitzgerald

O Velho e o Mar - Ernest Hemingway

Elizabeth Costello - John Maxwell Coetzee

Não te Deixarei Morrer, David Crockett - Miguel Sousa Tavares

Enciclopédia Universal - vol. desconhecido

Memória das Minhas Putas Tristes - Gabriel García Márquez

Codex 632 - José Rodrigues dos Santos

Livro do Carandiru (???) referência incompleta

Sinais Vitais - Robin Cook

Roseira Brava - José António Saraiva

Trópico de Capricórnio - Henry Miller

À Flor da Pele - Nicola Barker

Paris Nunca se Acaba - Enrique Vila-Matas

O Mosteiro e a Coroa - Theresa Schedel

Siddhartha - Hermann Hesse
A
njos e Demónios - Dan Brown

Amar depois de Amar-te - Fátima Lopes

A realização deste Top não teria sido possivel sem a participação de David Henriques e da sua excelente visão periférica.Obrigada!

24.8.06




"LIVROS-PRÍNCIPES"

Duas exposições na Gulbenkian mostram-nos o outro lado dos livros.
Apaixonamo-nos por eles mesmo sem os ler...

Matej Krén
Book Cell, 2006

De Paris a Tóquio
A Arte do Livro na Colecção Calouste Gulbenkian
(La Maison Tellier, Guy de Maupassant)

22.8.06


Uma Refeição de Verão

" Teve a ideia de ir ao Cook, na Rue Auber, para comparar preços de alfaiate, e resolveu ir almoçar ligeiramente ao Cafe de La Paix, olhando quem passava - estas parisienses pisando leve, pegando um lado da saia, fingindo os primeiros frios da estação... Um simples steak à francesa com batatas fritas que jamais Bristol lhe facultaria, e uma garrafa de Château Lafitte, Rothschild, sabia ele, o que lhe valeu a consideração do garçon, deram-lhe a satisfação de espírito que desejava naquela manhã assim tão bem anunciada."

A Bela Angevina, José Augusto França

... não resisti à descoberta de que até o Eça se perdia por batatas fritas!
Com a dose certa de grãos de areia, as minhas leituras de férias.


O húngaro Deszó Kosztolányi conta em Cotovia, com humor e subtileza, o amor escravizante de uma filha feia.


Os invisíveis, de Ana Paula Inácio. Doze contos, doze personagens que se reconhecem na insuficiência e invisibilidade.

Nunca fui bonita e sempre fiz um esforço por me tornar visível. Sem dar nas vistas à custa de exuberância. Apenas pretender que os olhares mais próximos se demorassem em mim num momentos de ternura ou mesmo lassidão. Mas a senhora conhece o ditado, Se não consegues vencê-los, junta-te a eles, e foi assim que deixei de existir, mesmo nos espelhos onde, começando por me tornar baça, me rarefiz em partículas mínimas de pó ou ainda nas fotografias onde me diluí num tom sépia e depois neutral.

in A Mulher que se Fez Cão e Depois Partícula Mínima de Praia


13.8.06




Alguém pediu um Porto Ferreira?


" On le boit à l'Anglaise, já que assim se fazia em Portugal... Ah! Sim, era um ritual já centenário: os Portugueses faziam tudo por envenenar os Ingleses, mas eles resistiam, com uma convicção inébranlable... E Queiroz explicou como, fazendo rodar a garrafa no sentido contrário ao dos ponteiros de um relógio, nunca a passando de mão em mão para evitar que ela fosse sacudida: pousava-se na mesa e o vizinho pegava nela com o mesmo cuidado. Como o sal, por causa do azar..."


José Augusto França, A Bela Angevina

7.8.06



O PRATO DO DIA

"Madame Breton pusera um cuidado especial nos petits plats que preparara ao gosto de Grasset e do marido que se encarregara dos vinhos, orgulhoso do seu côteaux du Layon que acompanhava magistralmente, os brochets de la Loire au
court-bouillon."
"Grasset digeria com beatitude e entrou num elogio do novo licor, esse produto do seu amigo Edouard Cointreau que havia de ir longe. Queiroz percebeu que o banco financiava a empresa, prevendo grandes lucros, e apreciou outra vez o seu perfume de laranja, certo de que não lhe iria fazer bem; já o sabia, do Curaçao das Antilhas."

A Bela Angevina, José Augusto França

Livros de infância são livros de Verão


Nestes dois livros "para crianças" de Agustina Bessa-Luís, regressamos ao tempo em que o agora é muito mais importante do que o amanhã.





Lourença, aos seis anos, sabia muitas coisas que ninguém suspeitava. Guardava-as para ela, porque as pessoas que nos conhecem de perto não são capazes de nos levar a sério. Artur ria-se da sabedoria de Lourença, a ponto de ela julgar que se tratava de algo de feio. Não compreendia como os adultos tratavam a gente pequena daquela maneira: como se fosse só números de circo e mais nada.

Dentes de Rato

A mãe queixou-se de que Lourença não gostava dela. Não se gosta todos os dias de tudo, nem dos pais, nem dos irmãos. É preciso pôr espaço entre nós e os outros, senão a malícia entra no coração como uma erva que cresça com o amor.

Vento, areia e amoras bravas