la bibliothécaire, sophie avon, arléa
29.11.06
la bibliothécaire, sophie avon, arléa
27.11.06
que um milhão de pessoas está a sair para a rua.
Há uma hora, desde as sete e meia horas da manhã
que um milhão de pessoas está a sair para a rua.
Estamos no ano da graça de 1946
em Lisboa, a sair para, o meio da rua.
Saímos? Mas sim, saímos!
Saímos: seres usuais, gente
gente! olhos, narinas,
bocas,
gente feliz, gente infeliz, um banqueiro, alfaiates,
telefonistas, varinas, caixeiros desempregados
uns com os outros, uns dentro dos outros
tossicando, sorrindo, abrindo os sobretudos, descendo
aos mictórios para apanhar eléctricos,
gente atrasada em relação ao barco para o Barreiro
que afinal ainda lá estava apitando estridentemente,
gente de luto, normalmente silenciosa
mas obrigada a falar ao vizinho da frente
na plataforma veloz do eléctrico, em marcha,
gente jovial a acompanhar enterros
e uma mãe triste a aceitar dois bolos para a sua
menina.
Há uma hora, isto: Lisboa e muito mais.
Humanidade cordial, em suma,
com todas as consequências disso mesmo
e a sair a sair para o meio da rua.
E agora, neste momento que horas são?
a telefonista guarda o batom na mala pousa os auscultadores ligam electricamente Lisboa a Santarém
e começou o dia
o pedreiro escalou para o telhado mais alto e cantou
qualquer coisa
para começar o dia
o banqueiro sentou
se, puxou de um charuto cubano,
pensou um bocado na família
e começou o dia
a varina infectou a perna esquerda nos lixos da
Ribeira
e começou o dia
o desempregado ergueu-se, viu chuva na vidraça,
e imaginou-se banqueiro
para começar o dia e o presidiário, ouvindo a sineta das nove,
começou o seu dia sem dar início a coisa alguma (...)"
há uma hora, há uma hora certa, mário cesariny
21.11.06
"Com o tempo, o ovo se tornou um ovo de galinha. Não o é. Mas, adoptado, usa-lhe o sobrenome. – Deve-se dizer “o ovo da galinha”. Se eu disser apenas “o ovo”, esgota-se o assunto, e o mundo fica nu. – Em relação ao ovo, o perigo é que se descubra o que se poderia chamar de beleza, isto é, sua veracidade. A veracidade do ovo não é verosímil. Se descobrirem, podem querer obrigá-lo a se tornar rectangular. O perigo não é para o ovo, ele não se tornaria rectangular. (Nossa garantia é que ele não pode: não poder é a grande força do ovo: sua grandiosidade vem da grandeza de não poder, que se irradia como um não querer.) Mas quem lutasse por torná-lo rectangular estaria perdendo a própria vida. O ovo nos expõe, portanto, em perigo. Nossa vantagem é que o ovo é invisível. E quanto aos iniciados, os iniciados disfarçam o ovo."
Clarice Lispector, O ovo e a galinha
Convidada a participar no Congresso Mundial de Bruxaria, na Colômbia, Clarice Lispector limitou-se à leitura do conto O ovo e a galinha. “Conto que é misterioso mesmo para mim. Um texto hermético e incompreensível. Cheio de uma simbologia secreta”, declarou.
Anos mais tarde, dizia o escritor Otto Lara Resende ao biógrafo de C.L., José Castello: "Você deve tomar cuidado com Clarice. Não se trata de literatura, mas de bruxaria."
16.11.06
in, os Cinco Voltam à Ilha, Enid Blyton
Há tempos prometi relembrar outro saudoso piquenique de infância. A promessa cumpre-se agora, até para contrariar a chuva que insiste em nos roubar o Verão. No entanto, ao reler esta passagem, que à época me fazia salivar, duas interrogações chegam de imediato: Como é que um chão de uma gruta é agradável e como é que eu salivava perante a descrição de sandes de carne enlatada? Estou velha...
10.11.06
6.11.06
o livro chama-se "rendez-vous", mas podia chamar-se a vida sexual entediante de christine angot...
sem interesse, vulgar e gratuito...