30.7.06



" Os Portugueses foram grandes revolucionários da estética do paladar, porque universalizaram gostos novos e confundiram a geografia botânica pelas suas transplantaçõess ousadas." Fidelino Figueiredo

José Quitério, Livro de Bem Comer

O elogio gastronómico suplanta a cozinha e perde-se nas eiras da horta...

29.7.06



Procurei numa livraria um dos meus livros de infância, Uma mão cheia de nada outra de coisa nenhuma, de Irene Lisboa. Mas a edição que encontrei perdeu a capa laranja e os desenhos de Pitum Keil Amaral. Já não é o mesmo livro.
Se o encontrarem, avisem.


22.7.06



Se fosse um livro da Ana Teresa Pereira ele matava-a no fim.

Fiquei com vontade de ler "Histórias policiais".

20.7.06

Nas estantes arrumo os livros por afinidades.
Manoel de Barros e Mia Couto desacostumam as coisas e desarranjam palavras.



Desinventar objectos. O pente, por exemplo. Dar ao pente funções de não pentear. Até que ele
fique à disposição de ser uma begônia. Ou uma gravanha.

Usar algumas palavras que ainda não tenham idioma.

Manoel de Barros






A poesia está guardada nas palavras - é tudo que
eu sei.

Meu fado é o de não entender quase tudo.
Prepondero a sandeu.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não cultivo conexões com o real.
Para mim, poderoso não é aquele que descobre ouro,
Poderoso para mim é aquele que descobre as insignificâncias:
(do mundo e nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei muito emocionado e chorei.
Sou fraco para elogios.

Manoel de Barros

18.7.06

ENCANTADOR DE PALAVRAS

Deus disse: vou ajeitar você a um dom.
Vou pertencer você para uma árvore.
E pertenceu-me.
Escuto o perfume dos rios.
Sei que a voz das águias tem sotaque azul.
Sei botar cílio nos silêncios.
Para encontrar o azul eu uso pássaros.
Só não desejo cair em sensatez.
Não quero a boa razão das coisas.
Quero o feitiço das palavras.


Manoel de Barros





16.7.06

"na verdade passo a manhã quase toda a ler ou sentado na poltrona mais próxima da lareira a fumar. e a pensar nela. acho que nunca pensei tanto numa mulher."

" o amor de tom. o corpo de tom, as suas palavras... não existia mais nada."

" não teve consciência do que se passou nos minutos seguintes. só se deu conta que a abraçava, que ela estava de pé e colada ao seu corpo, sentia-lhe os seios, o ventre. cobriu-lhe o rosto de beijos pequeninos, percebeu que ela era quente, que a sua carne emanava um calor quase de febre, pensou vagamente que ela não era feita de água e noite mas sim de fogo, que começara a amá-la sem saber qual era a sua substância."
histórias policiais, ana teresa pereira, relógio d'água

9.7.06




Regresso a Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, de Clarice Lispector.


Um livro de iniciação...à alegria, ao prazer, ao exercício da vida, à graça.





sentou-se para descansar e em breve fazia de conta que ela era uma mulher azul porque o crepúsculo mais tarde talvez fosse azul, faz de conta que fiava com fios de ouro as sensações, faz de conta que a infância era hoje e prateada de brinquedos, faz de conta que uma veia não se abrira e faz de conta que que dela não estava em silêncio alvíssimo escorrendo sangue escarlate, e que ela não estivesse pálida de morte mas isso fazia de conta que estava mesmo de verdade, precisava no meio do faz de conta falar a verdade de pedra opaca para que contrastasse com o faz de conta verde-cintilante, faz de conta que amava e era amada, faz de conta que não precisava de morrer de saudade, faz de conta que estava deitada na palma transparente da mão de Deus,

Continua em o dia oportuno

2.7.06

... eu já tinha descoberto a anna gavalda há mais tempo...

e hoje, ao acabar este livro lembrei-me... eu e o n. estavamos no porto e decidimos ir até ao majestic beber um café. nessa tarde, no majestic, havia a apresentação de um livro. a autora estava sentada no meio de dois senhores da editora dom quixote. o editor falou durante algum tempo sobre o livro e a certa altura perguntou às pessoas se queriam fazer perguntas. ninguém tomou a iniciativa (não me pareceu que estivessem ali para assistir à apresentação, mas sim para beber um café). ele insistiu. ninguém se manifestou. e, em desespero de causa, pareceu-me, ele disse que oferecia um livro a quem fizesse a primeira
pergunta e então surgiram algumas questões forçadas. no final, não sei se por esquecimento ou pela qualidade das perguntas (ou falta dela), ele não ofereceu livro nenhum!

o primeiro livro que li da anna gavalda, foi no ano passado. era uma história pequena que penso não estar traduzida em português. o título original é "ceux qui savent comprendront". era
uma história realmente muito pequena que li numa noite de babysitting. era também uma história muito simples... e acho que os livros dela são todos assim... o que eu gosto nesta escritora é o seu poder de observação, é a forma simples como ela descreve o que observa, o humor que utiliza e o facto de todas as "estórias" esconderem, por detrás dessa simplicidade e humor, uma verdade...

para os que não conhecem... a descobrir...