
la bibliothécaire, sophie avon, arléa
os pontos que acrescentamos aos contos
"Com o tempo, o ovo se tornou um ovo de galinha. Não o é. Mas, adoptado, usa-lhe o sobrenome. – Deve-se dizer “o ovo da galinha”. Se eu disser apenas “o ovo”, esgota-se o assunto, e o mundo fica nu. – Em relação ao ovo, o perigo é que se descubra o que se poderia chamar de beleza, isto é, sua veracidade. A veracidade do ovo não é verosímil. Se descobrirem, podem querer obrigá-lo a se tornar rectangular. O perigo não é para o ovo, ele não se tornaria rectangular. (Nossa garantia é que ele não pode: não poder é a grande força do ovo: sua grandiosidade vem da grandeza de não poder, que se irradia como um não querer.) Mas quem lutasse por torná-lo rectangular estaria perdendo a própria vida. O ovo nos expõe, portanto, em perigo. Nossa vantagem é que o ovo é invisível. E quanto aos iniciados, os iniciados disfarçam o ovo."
Clarice Lispector, O ovo e a galinha
Convidada a participar no Congresso Mundial de Bruxaria, na Colômbia, Clarice Lispector limitou-se à leitura do conto O ovo e a galinha. “Conto que é misterioso mesmo para mim. Um texto hermético e incompreensível. Cheio de uma simbologia secreta”, declarou.
Anos mais tarde, dizia o escritor Otto Lara Resende ao biógrafo de C.L., José Castello: "Você deve tomar cuidado com Clarice. Não se trata de literatura, mas de bruxaria."