19.12.06

... um livro sobre os livros...


« os livros mudam o destino da vida das pessoas. uns leram « o tigre da malásia » e converteram-se em professores de literatura em remotas universidades. « siddartha levou ao hinduísmo dezenas de milhares de jovens, hemingway converteu-os em desportistas, dumas transtornou a vida de dezenas de milhares de mulheres e não poucas foram salvas do suicídio por manuais de cozinha. bluma foi vítima deles.

mas, não a única. o velho professor de línguas antigas leonard word ficou hemiplégico ao levar na cabeça com cinco volumes da enciclopédia britânica, que se desprenderam da estante da sua biblioteca ; o meu amigo richard partiu uma perna ao tentar chegar ao « absalão, absalão ! » de william faulkner, mal colocado numa estante, o que o levou a cair da escada. outro amigo de buenos aires adoeceu de tuberculose nos sotãos de um arquivo público e conheci um cão chinelo que morreu de indigestão com « os irmãos karamazov » depois de devorar as suas paginas numa tarde de fúria (…) »
in "a casa de papel", carlos maría domínguez , edições asa

13.12.06

"Era uma história de amor, era um conto de fadas, ela sempre achara que nada é tão bom como escrever um conto de fadas, ou next best thing, uma história de fantasmas."

Ana Teresa Pereira, A neve


Acrescentem-se as flores, os scones, cidades sem nome, anjos e alguns demónios... são assim os contos de Ana Teresa Pereira.

4.12.06



"e quando a solidão se tornava insuportável, ele apareceu. na verdade fui eu que o procurei, sem saber o que fazia, no nevoeiro e na chuva, perto do mar. há muito tempo, quando o inverno começava."

"leu uma página do livro, uma edição de bolso de "o monte dos vendavais" sentiu o cheiro da urze e olhou para fora, para os campos na escuridão."

"chegaram a uma praça com árvores sem folhas, arbustos escondidos pela neve, alguns bancos de madeira; no centro havia uma fonte e o silêncio adensava-se à sua volta, como acontece às vezes com as fontes e os poços."

"atravessou a praça com uma sensação de irrealidade, e naquele momento a neve começou a cair, flocos pequenos deslizavam à sua volta e transformavam a noite. rose ergueu o rosto e sentiu os flocos de neve na pele muito fria e depois um cansaço enorme."

"havia algumas pessoas na praça coberta de neve, e o sol brilhava palidamente num céu azul muito claro, quase sem nuvens. imaginou a praça na primavera, com pequenas flores brotando no canteiro, e depois a chuva, e o sol, respirou o ar fresco com uma alegria nova, fechou a porta, e foi à procura dele."

in "a neve" ana teresa pereira, relógio d'água

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