4.9.06


O brunch do lobo mau

Esta história é como um almoço familiar, já a conhecemos desde sempre mas por vezes surpreende-nos!
...

" A avozinha já almoçou?"

"Ainda não", disse o lobo. "Estava à tua espera..." e aproximou a sua cadeira da cadeira da Capuchinho Vermelho, pondo-lhe o braço à volta dos ombros.
"Que braço tão grande, avozinha!",
disse Capuchinho Vermelho.
"É para te abraçar melhor...",
respondeu o lobo, apertando-a contra si.
"E que olhos tão grandes com que está!"

"São para te ver melhor, minha querida..."

"E que orelhas tão grandes!"

"São para te ouvir melhor..."

"E a boca, que boca tão grande!"

"É para te comer melhor!",
disse o lobo pondo-se de repente de pé, saltando sobre a Capuchinho Vermelho e comendo-a.
Quando acabou de comer a Capuchinho Vermelho, o lobo lambendo os beiços exausto e satisfeito, achou que era melhor ficar por ali e dormir um pouco enquanto fazia a digestão. Tinha comido a avó e Capuchinho uma a seguir à outra e estava a abarrotar, por isso adormeceu rapidamente.

A mãe voltou então do trabalho e deu com o lobo a dormir na sala e as roupas da Capuchinho Vermelho espalhadas pelo chão. Em grande aflição, percebeu logo o que se tinha passado. Cheia de raiva, correu ao anexo do quintal, trouxe uma forquilha e espetou-a no lobo com toda a força, matando-o. Seguidamente, pegou numa grande faca e tirou-lhe cuidadosamente a pele.
"Assim como assim", disse a mãe, "sempre fico com uma estola..."
Nos dias seguintes a toilette da mãe foi objecto de grande admiração entre as colegas de escritório: um vestido vermelho rubro que lhe ficava muito, muito bem e uma belíssima pele de lobo ao pescoço."


in, A história do Capuchinho Vermelho contada a crianças e nem por isso por Manuel António Pina segundo desenhos de Paula Rego

2 comentários:

magarça disse...

Este sim, é um conto exemplar! Admiro o sentido prático da senhora mãe...

Anónimo disse...

Ai que nesta altura esta falta de maternidade faz-me tão mal...